sábado, 9 de novembro de 2024

VICTORIA SECRETS ABRAÇA A INCLUSÃO ?

 Muito tem se discutido, sobre o a última edição do desfile da Victoria Secrets. A marca que recebia duras críticas, por não incluir variedade de corpos em seu cast, como modelos plus size e trans por exemplo, mostrou nessa última edição um cast de modelos mais diversos, com modelos de manequins maiores e quebrando o padrão da cisgeneridade, ao colocar uma modelo trans para desfilar em sua passarela. Entretanto, boa parte do público e alguns entusiastas do ramo da moda, questionam essa tal diversidade, alegando que a passarela não era tão diversa assim.

As pessoas estão alegando que houve uma espécie de Fake Inclusão. Na tentativa de trazer uma passibilidade de variedade e pluralidade para a marca. A prerrogativa é que a marca não fez um trabalho amplo e de boa vontade, mas sim apenas cumpriu com sua “obrigação” em meio a um enxame de cobranças e cancelamentos.

 O fato é que a Victoria Secrets sempre foi uma marca que se posicionou com uma imagem de beleza inalcançável. Não é à toa que suas modelos são chamadas de Angels, para remeter a uma imagem magra, alta e etérea. Como um sinônimo de pureza, sensualidade, beleza e hegemonia branca. Algo que se perdurou durante anos. Trazendo ao imagético de que modelo precisa ser magra, que o glamour é uma mulher alta de proporções iguais tanto para busto, quanto para quadris. Algo que fugisse desse padrão, proporção peito e bumbum, já seria considerado como acima do peso para marca.

Fundada em 1977 pelo empresário Roy Raymond, cujo o objetivo foi glamourizar o ato de comprar peças intimas, sem que as mulheres se sentissem mais envergonhadas em querer comprar calcinhas e soutiens. Em uma época onde falar sobre a sensualidade feminina era sinônimo de depravação e indecência, as mulheres se sentiam intimidadas a falar até mesmo sobre calcinhas. a empresa surge na contramão a esses estereótipos designados pela então sociedade. E a ideia se expande até 1996 quando surge o primeiro fantasy bra, um soutien cujo o bojo era revestido por pedrarias preciosas como rubi e diamante.


Hoje em dia, 28 anos após o lançamento de sua icônica peça, os olhos e atenção se voltam para a passarela mais aclamada do mundo. Onde o desfile, deixa de ser executado nos moldes tradicionais e se torna um verdadeiro fashion show com apresentações de diversos artistas renomados como: Cher, Lady Gaga, Bruno Mars, Ariana Grande, Taylor Swift, Halsey, Selena Gomez e dentre outros. 


A edição de 2024 contou com apresentação da cantora Tailandesa Lisa, integrante do grupo de Kpop BlackPink, que tem se consolidado com sua carreira solo a nível global, sendo a primeira asiática a se apresentar na passarela. Lisa encantou a todos com uma apresentação icônica de Rockstar, com direito a remix do funk brasileiro rajadão e com a ballad romântica Moonlit Flor.

Lisa Moonlit Floor Fashion Show

Lisa Rockstar Fashion Show

Na passarela desse ano, desfilando com o famoso estilo catwalk passaram as modelos: Tyra Banks, Kate Moss e Carla Bruni. Fechando a linha de modelos mais experientes. Também contou com a participação da primeira modelo trans, a cearense Valetina Sampaio que faz parte do cast desde de 2019. Além das modelos plus size Ashley Graham e Ali Tate-Cutler fizeram parte do time que supostamente promoveriam a inclusão.

Ashley Graham 
Abrindo um parênteses para definir catwalk. A palavra catwalk refere-se a uma passarela estreita, geralmente elevada, usada em desfiles de moda. É o espaço onde modelos caminham para exibir roupas e acessórios de designers, permitindo que o público e os profissionais da moda observem cada peça de forma detalhada.

Além disso, catwalk também pode se referir ao estilo característico da caminhada das modelos nesses desfiles, com poses e olhares marcantes que enfatizam a confiança e a expressão corporal. Essa caminhada tem um ritmo próprio, projetado para valorizar as roupas e acessórios que estão sendo apresentados.

O que levanta o debate é o fato das modelos plus size e trans ainda perfomarem um padrão europeu, sendo altas, sem barriga e todas de pele clara, não correspondendo assim com a variedade de corpos existente em todos os hemisférios. As pessoas se decepcionaram, pois desejavam ver modelos plus size com corpos maiores, com barriga e negras, demonstrando assim, que a beleza de fato é algo subjetivo e uma série de padrões pré estabelecidos por grupos já dominantes em uma sociedade que por si só, já é gordofóbica e racista.


Existem aqueles que defendem que isso já é um bom começo, pois o ruim seria se não existissem nenhum corpo que fosse fora dos padrões das Angels e que mesmo não sendo ainda o ideal, a marca começa a demonstrar que outros padrões de beleza devem ser notados, justamente os que fogem dos padrões da cisgeneridade, hetenormatividade e do eurocentrismo. Entretanto, para os que defendem que a marca só incluiu esses corpos para se livrarem da culpa e do cancelamento. Ainda é muito pouco comparado, ao nível de informações e das inúmeras lutas travadas por movimentos como Body Positive por exemplo.

Além do mais a cultura da magreza ainda é celebrada e difundida na sociedade como algo normalizado e como padrão de beleza a ser seguido pelas pessoas e se grandes marcas com poder de influência gigantescos, contribuem para a manutenção desse padrão, a tendencia de doenças como depressão e ansiedade é aumentar cada vez mais e mais, levando assim as pessoas a pensaram de maneira contraria a auto aceitação de seus corpos e aparência.

O fato é que marcas como a Victoria Secrets, não podem mais se preocupar em apenas vender, mas também devem pensar em responsabilidade social. O modo como o consumidor compra mudou muito ao longo dos anos, e uma empresa que não constrói a sua imagem pensando no social, não pode sobreviver ao mercado, mesmo que seja uma empresa de grande porte como essa. O modo como as mulheres enxergam a si mesmas e veem beleza em seus corpos também mudou. Após compreenderem que moda também é uma ferramenta política e de expressão, as pessoas decidiram que esse segmento deveria ter diversidade, pois é a moda que tem que se adaptar as pessoas e não o contrário.

Afinal, moda é feita de pessoas para pessoas e precisa ser lida dessa forma. Desse modo, a premissa de inclusão da Victoria é válida, mas não é suficiente e por isso mesmo, que deve ser cobrada para que amplia a diversidade de corpos em sua passarela, para que dessa forma o mundo inteiro veja que a beleza é algo subjetivo e construída a partir de várias perspectivas e vieses diferentes. Sem precisar adotar um único modelo, como padrão a ser rigorosamente seguido

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